A
abordagem desta publicação é sobre o crescente uso das redes sociais, que tem
proporcionado novas formas de comunicação e conexão emocional. Em um mundo cada
vez mais dependente da tecnologia, há novos desafios em relação à segurança e à
privacidade dos usuários, especialmente, no que diz respeito aos abusos sexuais
e à pedofilia, além de seu impacto na saúde mental da pessoa.
Inicialmente,
vemos o ambiente virtual, principalmente as mídias sociais, difundirem a
necessidade de beleza e sucesso, como um ideal a alcançar. O imperativo para as
pessoas se mostrarem na Internet é estimulando o desejo de possuir um corpo
perfeito, sucesso financeiro e de felicidade. Isso implica em uma
desorganização psíquica, pois passa pela via da comparação, por indicativos do
sucesso alheio, um caminho para a infelicidade em razão de destruir a
autoestima.
Quando
indagadas sobre o motivo da relação intensa com o celular, adolescentes,
prontamente, responderam: “ele escuta todas as nossas conversas e não conta
para ninguém; “gosto muito do meu celular, ele é minha vida, tenho afeto por
ele”. Quão delicada é a questão sobre a necessidade de se conectar a alguém ou
alguma coisa. Essas respostas fazem com que elas se refugiem fora do contato
social, familiar, perdendo a percepção da realidade e prejudicando a construção
das próprias identidades.
O
recorte da emoção, intenção e motivação, confidencialidade, são sensações expressivas
para preencher um espaço vazio, de solidão, carência, de isolamento, criando
uma conexão emocional perigosa de dependência; exemplo coerente com o filme Ela,
que assisti recentemente, no qual os seres humanos se conectam, emocionalmente,
com sistemas operacionais inteligentes.
Diante
dessa ironia, muitos casos de abusos sexuais e pedofilia surgem por meio de
contatos e relações iniciadas pela Internet, nas quais o abusador, escondido
por um perfil falso, mantém contato com a vítima. Caso equivalente está sendo abordado
na novela Travessia, da Rede Globo, expondo o episódio de uma
adolescente que usa a internet para se relacionar com um pedófilo, que se
esconde em uma identidade falsa de uma outra menina, com uso de recursos
tecnológicos, para ganhar a confiança da vítima. Ela fica deslumbrada com uma amizade virtual que acredita ser uma celebridade
influente do meio digital. Na verdade, está sendo enganada por um pedófilo que,
por meio de mecanismos digitais, se faz passar por uma mulher.
Outro
caso foi o de uma menina de doze anos sequestrada por um rapaz de vinte e cinco
anos e levada para outro estado. Ele confessou que conheceu a menina em um aplicativo
de vídeos, quando ela tinha dez anos e que, desde então, trocavam mensagens.
Como
profissional da saúde, afirmo que pode haver graves consequências para a saúde
mental e emocional, pois a adolescência é uma fase do desenvolvimento que
envolve transformações físicas, emocionais e afetivas, podendo ser geradoras de
muitos conflitos. Como escreveu Winnicott: “o adolescente sadio é um
adolescente maduro e não um adulto precoce”.
Eu
me deparo com um risco que aciona um alerta para a importância da escuta, do
cuidado e do acolhimento dessas crianças e jovens, no sentido de evitar que
possam ser marcados por traços de crueldade e perversidade.
Há
muito a ser pensando, uma vez que as crianças que sofrem abuso sexual, muitas vezes, experimentam sentimentos de
medo, ansiedade, culpa, vergonha, tristeza e raiva. Elas podem ter dificuldades
de confiar em outras pessoas, incluindo em adultos que deveriam protegê-las, e
desenvolver problemas de autoestima e autoconfiança.
É
importante que a vítima receba ajuda imediatamente após a revelação do abuso,
em termos de tratamento psicológico e apoio emocional. Os pais responsáveis
precisam de cuidados também neste momento, para que os profissionais da saúde
mental possam ajudar as crianças a lidar com o trauma por meio da terapia,
aconselhamento e apoio familiar. Vale lembrar que o abuso é grave e que
a culpa nunca é da criança, pois usam da sedução e depois da ameaça para
continuar mantendo o controle sobre a vítima.
Este
é um assunto delicado, que necessita de todas as reflexões possíveis, para que os
efeitos na saúde mental sejam os menores possíveis.
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