quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

IMPRESSÕES E POSSIBILIDADES

 

A nossa cultura, frequentemente, encoraja-nos a pegar atalhos e soluções rápidas, preferencialmente mágicas, para alcançarmos tudo que desejamos e para o alívio de sofrimentos.

 Muitas das pessoas que vivem experiências traumáticas de violência, ou de indiferença no ambiente, internalizam essas situações perturbadoras e, por proteção ou para evitar dor, preferem viver em isolamento e ficam em silêncio – considerado como refúgio psíquico.

O refúgio psíquico, portanto, é um sistema defensivo que protege o indivíduo contra a dor e a ansiedade; fornecendo relativa tranquilidade e proteção contra as tensões de ameaça; no entanto, referida condição leva a paralisia e a estagnação disfuncional, cujo padrão pode ser quebrado.

É notável que, atualmente, muitos não apresentem tolerância para investir tempo e dedicação no autoconhecimento, pelo entendimento de que seus conflitos, percepções, experiências de dor, desejos, crença, intenção, emoção e memória não precisassem de cuidados. Em outras palavras, é como se a pessoa ficasse acostumada e até mesmo dependente desse estado de estagnação mental, visto que romper com algo que incomoda é mais trabalhoso do que mantê-lo como está.

 Mesmo assim, o enfrentamento e a compreensão da origem da dor e das soluções – que podem estar em um lugar emocional oculto e pouco definido – é o caminho para o entendimento dos enigmas da mente, de modo a reconhecer pensamentos e emoções, restaurando o equilíbrio emocional e a capacidade de pensamento. Por vezes, nossos castelos sempre podem desmoronar.

 As palavras e reflexões podem oferecer novas perspectivas e aprendizados na reconstrução da história, com foco no bem-estar emocional e mental.

Lembrei-me da exposição da obra do pintor impressionista francês, Claude Monet, à beira d’água. Veja-se.

 Quando se observa um quadro, captamos e somos sensitivamente captados, e tal apreensão nos leva a uma viagem sensorial sobre o que o pintor via no momento e a forma que sentia.

Muitos sentem um rebuliço e um borbulhar de pensamentos ao apreciar uma tela, levando ao despertar de emoções antes adormecidas, provocando uma reflexão sobre sensações, lugares, afetos e, sobretudo, imaginação. Isso ocorre de forma única a cada indivíduo.

 Um olhar sobre a tela em que ele retrata a esposa Camille e o seu filho, à primeira vista, é uma cena doméstica, na qual se vê uma mulher bordando com o filho ao lado; à medida que nos aproximamos, entretanto, podemos ver no seu rosto serenidade, ainda que sem expectativas. Uma aparente satisfação que também transmite solidão.

 Nesta perspectiva, a psicologia analítica propõe que o indivíduo busque o caminho da individuação e do autoconhecimento, desenvolvendo aspectos negligenciados da sua personalidade e reavaliando suas relações e percepções sobre si mesmo. Kandinsky diz que todos os fenômenos podem ser vividos de duas formas: a interior e a exterior.

Observar a rua da janela é se manter na superficialidade, mas, ao abrir a porta, saímos do isolamento, participamos desse tempo e espaço, e tornando-nos agentes, vivendo a nossa pulsação em todos os nossos sentidos.

 Não existe drive-thru para aqueles que desejam que seus problemas sejam solucionados o mais brevemente possível, de preferência, sem muito esforço.

Para enfrentar a dor é preciso enxergar os conflitos. Só após enfrentar as sombras, o desconhecido de si mesmo, é que será capaz de ver a luz.

 Assim, seguimos, com as impressões e as possibilidades a nosso dispor, sem soluções mágicas.

Desejo que, neste Natal, você possa olhar profundamente para seu interior de maneira a escutar a si mesmo, enxergar novos caminhos de renovação e compreender que a todo instante estamos criando a vida em nós mesmos e nos transformando.


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